o mendigo está dormindo no banco da praça
coberto por pedaços de papelão e restos de cobertores velhos
sob o banco
costelinha também dorme — enrodilhado —
companheiros inseparáveis
de feridas
de fome
de jornada
e o mendigo sonha
mil sóis o aquecem
do frio da noite
a lua reflete-se em prata
no orvalho em seus cabelos
estrelas atentas
velam pelo seu sono — e o do seu amigo —
anjos colocam comida
na velha lata de marmelada
que ele usa como prato
e então
ele flutua pela eternidade
seus olhos conseguem perceber
as maravilhas disfarçadas em dia a dia
existe tanta paz e plenitude — em seu sonhar —
que Deus desce de sua nuvem preferida
— aquela com formato de mãe -
e aproximando-se
afaga a sua cabeça
lembrando-se do dia em que
Lhe deu como presente
a sabedoria do faz de conta
e Sorriu satisfeito por ter feito isso
costelinha — sempre presente —
está em festa e abana freneticamente o rabo
bagunçando Sua alva e bela túnica
e o mendigo se faz luz
costelinha se faz luz
e por um momento fugaz
criador e criaturas são apenas um
e todo o sentido do mundo se mostra — sem véus —
e uma pomba pousa no invisível fio do infinito
repentinamente
o mendigo é acordado — aos safanões —
pelo guarda da praça
costelinha se põe em alerta e rosna
o mendigo percebe que amanheceu
senta-se no banco
sacode a cabeça
tentando se lembrar de onde está
respira fundo
tira do bolso um naco de pão mofado
— que é dividido com o amigo —
e sentindo-se abençoado
segue — seguido por 4 patas —
para lugar nenhum
deixando atrás de si
o cheiro que incomoda
todos aqueles que não sonham mais
ilustração ;the beggar and the dog (domínio publico)
© 2022 do autor
℗ house of lord
25 comentários:
Uma poesia visual. Me senti sonhando junto com o mendigo, como sempre um presente para nós.
Que coisa linda.
Nossa, eu amei... Viajei junto com eles...
O que um olhar não faz...
Não dá pra melhorar o mundo assim, direto. É preciso melhorar o olhar, enxergar.
Lindeza, Branco.
Oi Branco!
Vc encontrou um jeito romântico e bastante lírico de se olhar para uma mazela... Quem dera a dureza do mundo pudesse ser sentida assim!
Uma poesia bastante imagética, que complementa muito bem o lirismo que vc traz!
Abço
Benditos são aqueles que enxergam os invisíveis... não para criticar ou reclamar, mas simplesmente como um ser humano "enxergando" outro...
Senti no final da poesia um otimismo contagiante. Meu dia ficou mais leve.
Belo texto, estou com os olho marejado, e um coração confuso.
Há muito mais do que bens materiais, do conforto ou de conquistar o mundo. É este essencial que dá força para sonhar, se levantar e seguir em frente, apesar de tantas contrariedades. Muito lindo e muito sutil.
A vida é assim infelizmente a maioria das pessoas são guardas de praça ou os incomodados. Belíssimo!
Nossa...sensacional...vc como sempre...o poeta da vida...parabéns
Lindo pai, como sempre encontrando palavras doces para retratar rotinas amargas. Obrigada por proporcionar essa leitura.
Excelente Lord!
Uma viagem a ser feita entre os personagens e o leitor. Bravo!
Quem tiver olhos de ver, verá! Muito bom, amigo.
Lindissimo! Acho que é exatamente isso que acontece com a maioria das pessoas. Adorei...
Sua poesia nos consola até da tristeza alheia!
Vi este mesmo quadro na Praça Santa Terezinha. O interessante é a situação contada por você, de forma poética, que me fez ver além da situação que vi e senti. Pura realidade. Parabéns!
Os "invisíveis" também sonham. Obrigado pela viagem meu irmão! Valeu! Abração.
Quanta tristeza cabe em tanta beleza! E só um poeta de altíssima sensibilidade para levar leveza e encantamento aonde só haveria desencanto. Obrigada por escrever e compartilhar, oh, My Lord white!
Muito lindo consegui até imaginar o sonho junto c o mendigo e o costelinha��
Mto bem feito,gostei, emocionante. Parabéns,.
Acima saiu escrito errado desculpa
Que lindo. Por instantes ele saiu da dureza da vida e pode sonhar livremente! Adorei! ����
Sensível e real. Belíssimo texto.
Postar um comentário