ei velho
só você não percebeu
quanto tempo desperdiçou
você ainda era jovem
quando se sentou pela primeira vez
nessa mesma cadeira
colocou sua caneta no papel
que estava sobre a mesa
e começou a viver outras vidas
tomou posse de sentimentos
que não te pertenciam
tornou-se parte de vários alguéns
e nenhum era você
quanta mulheres você amou
sem nunca te-las visto
quantas vezes foi abandonado
quando — em verdade — sempre esteve sozinho
sofreu dores
que não eram suas
derramou lágrimas
que não deveriam estar
em seus olhos
envelhecendo enquanto escrevia
mas
sua vida
papel em BRANCO
ei velho
SÓ você não percebeu
que suas risadas foram ficando
cada dia mais raras
o sorriso — raro sorriso —
não combinava com o sem brilho
do seu mirar
você percorreu estranhos caminhos
com suas tintas e páginas
e ao fim de cada jornada
voltava mais incompleto
a cada ressurreição
deixava um pedaço de si no papel
homem quebrado
quantas vidas você viveu
quantos sonhos você sonhou
você percebe o que fez
você percebe que nada era seu
e agora aí
sentado sozinho — olhando para a varanda —
observando o ninho vazio no alpendre
sem saber qual resposta dará
quando alguém te perguntar
qual é o verdadeiro você
escrito originalmente em novembro, 03 de 2014, para ser incluído no livro, poemas de gaveta, lançado no ano de 2018; no entanto, perdeu-se em uma das gavetas da vida e só fui encontrá-lo em março de 2022.
revisto e alterado. as alterações estão nas 3 últimas linhas.
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