o mendigo está dormindo no banco da praça
coberto por pedaços de papelão e restos de cobertores velhos
sob o banco
costelinha também dorme — enrodilhado —
companheiros inseparáveis
de feridas
de fome
de jornada
e o mendigo sonha
mil sóis o aquecem
do frio da noite
a lua reflete-se em prata
no orvalho em seus cabelos
estrelas atentas
velam pelo seu sono — e o do seu amigo —
anjos colocam comida
na velha lata de marmelada
que ele usa como prato
e então
ele flutua pela eternidade
seus olhos conseguem perceber
as maravilhas disfarçadas em dia a dia
existe tanta paz e plenitude — em seu sonhar —
que Deus desce de sua nuvem preferida
— aquela com formato de mãe -
e aproximando-se
afaga a sua cabeça
lembrando-se do dia em que
Lhe deu como presente
a sabedoria do faz de conta
e Sorriu satisfeito por ter feito isso
costelinha — sempre presente —
está em festa e abana freneticamente o rabo
bagunçando Sua alva e bela túnica
e o mendigo se faz luz
costelinha se faz luz
e por um momento fugaz
criador e criaturas são apenas um
e todo o sentido do mundo se mostra — sem véus —
e uma pomba pousa no invisível fio do infinito
repentinamente
o mendigo é acordado — aos safanões —
pelo guarda da praça
costelinha se põe em alerta e rosna
o mendigo percebe que amanheceu
senta-se no banco
sacode a cabeça
tentando se lembrar de onde está
respira fundo
tira do bolso um naco de pão mofado
— que é dividido com o amigo —
e sentindo-se abençoado
segue — seguido por 4 patas —
para lugar nenhum
deixando atrás de si
o cheiro que incomoda
todos aqueles que não sonham mais
ilustração ;the beggar and the dog (domínio publico)
© 2022 do autor
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