não me pergunte
para onde vou com tanta pressa
não sou um de vocês
por trás dessa barba grisalha
e do sorriso fácil
não devo dizer
que para onde estou indo
os rios correm devagar
os cheiros são naturais
e não é preciso
tomar pílulas para dormir
multidão de pessoas me pergunta
o que deve fazer
qual o caminho a seguir
qual o destino a se chegar
respondo - com o meu olhar -
meus amigos
as respostas vocês todos as têm
não sou o profeta
que vocês tanto esperavam
apenas sei que devo ir
deixo para trás fragmentos de vida
transeuntes apressados
gemidos lamurias e gritos de revolta
a conta ainda não paga
o manequim na vitrine
a silhueta de uma menina
o acidente na esquina
o semáforo vermelho
a caneta vazando
sobre a folha em branco
não posso ouvir suas vozes
mas
sei exatamente o que estão dizendo
não posso ver vocês
mas
sei que estão vestidos
de uma maneira diferente da minha
nada preciso dizer
minhas palavras já não precisam de som
ainda estou subindo pelo primeiro dos sete degraus
gramas verdes
iluminadas pela luz da luz
vejo tristão
- finalmente percebendo a farsa e -
recebendo isolda
um abraço infinito dentro deste infinito
não existe mais o medo
da queda ou da escuridão
não sou mais um
sou seu eterno amante
- aquele que realiza os seus delírios -
e em volta
pessoas de cores e línguas diferentes formam uma irmandade
aqui
existem círculos cruzes e estrelas cadentes
aqui
não existem heróis
apenas aprendizes - como eu -
aqui
somos velas
irradiando luz nos incontáveis braços
deste imenso candelabro
aqui
nossa luz e nosso riso afastam o mal
que procura outro espaço - tempo - para se expandir
aqui
tudo é claro e compreensível
e o cordeiro não precisa sangrar
para o sacrifício do amor
vejo o rio em sua calma
e vislumbro um coral de virgens e prostitutas
que nos canta a canção
de deixarmos portas abertas
percebo que meus sonhos
eram a minha prisão
hoje
sou a estrela
o rio
a grama verde
a cruz
o ancião
hoje
estou pleno em ser
.
.
.
.
.
.
.
sou um ancião
que ás vezes gosta
de contar piadas
dedico a todos vocês que estão trilhando os caminhos de luz
estejam em qual degrau estiverem.
arte : marcus web
p. aint
©2018 do autor
permitida a reprodução desde que citada a fonte
protegido pela lei 9.610 de19 de fevereiro de 1998
22 comentários:
Então gosto de ser ancião só pra recitar o seu mantra.
Como é bom envelhecer com sapiência... Para Galgar cada degrau com precisão...
Bom dia Meu Amigo ��❤
Essa é demais. Me lembra os anos hippies, psicodélicos. Seu texto é enxuto e preciso.
Simplesmente perfeito meu amigo!! Forte abraço!!
Cada leitura e uma surpresa. Pode ser no mesmo poema ou em vários. A sua variação de estilos é tão grande que só sabemos que é seu por que o seu DNA está presente. Neste, todas as nossas duvidas são jogadas no ar e com suas certezas contrapõe todo o texto.
A piada final foi um deleite para mim, assim como os créditos da arte, coisa que você repete sempre.
Se você não fosse humano diria que tem a forma de poesia.
Alcir
Envelhecer... você é um gênio.
Inspirador
Lindo caminhos sobre a vida e o envelhecer.
Com linguagem sucinta o recado é dado. Fico feliz pelo ancião que discorre, uma síntese da realidade imaginária.
Linda poesia 😍
Que viagem Mago. Que viagem!
O Cordeiro Filho de Deus. É o Paraíso que você está não é?
Não importa o degrau... isso mesmo! Tocante!
Que viagem fantástica, My Lord! Você nos leva degrau por degrau sem que percebamos, por conta das nuances de imagens e sentidos. Quem falou psicodélico, gostei. Uma viagem lisérgica de poesia. Nada mais de imolar o Cordeiro! Sejamos um ao final do Caminho!
Genial. Linda poesia ! Um abraço Branco.
Desobrigados.... despercebidos... um pouco mais livres das projeções...
Lindo texto, envelhecer é maravilhoso 👏
Parabéns querido amigo
Desbravando almas, como sempre!!!
Muito belo, meu amigo. Meus parabéns.
Ímpar. De uma profundidade poucas vezes atingida.
Uma profusão de imagens e sensações, as áreas de conhecimento sendo revisitadas e aprimoradas. Grande texto, grande autor.
Uma pincelada e tanto sobre ser humano, né? Todas as camadas, cada beleza e a necessidade de desapegar do tempo. Seu poema me caiu muito bem. Acalmou meu dia, atiçou meus demônios, do jeito que prefiro que seja, de fazer a vida pulsar. Beijos, Branco. Obrigada pela sua poesia.
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