segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ancião _^_ branco


 sou o ancião

não me pergunte 

para onde vou com tanta pressa

não sou um de vocês

por trás dessa barba grisalha

e do sorriso fácil

não devo dizer

que para onde estou indo

os rios correm devagar

os cheiros são naturais

e não é preciso 

tomar pílulas para dormir


multidão de pessoas me pergunta

o que deve fazer

qual o caminho a seguir

qual o destino a se chegar

respondo - com o meu olhar - 

meus amigos

as respostas vocês todos as têm

não sou o profeta 

que vocês tanto esperavam

apenas sei que devo ir


deixo para trás fragmentos de vida

transeuntes apressados

gemidos lamurias e gritos de revolta

a conta ainda não paga

o manequim na vitrine

a silhueta de uma menina

o acidente na esquina

o semáforo vermelho

a caneta vazando

sobre a folha em branco


não posso ouvir suas vozes

mas 

sei exatamente o que estão dizendo

não posso ver vocês

mas

sei que estão vestidos 

de uma maneira diferente da minha

nada preciso dizer

minhas palavras já não precisam de som


ainda estou subindo pelo primeiro dos sete degraus

gramas verdes

iluminadas pela luz da luz

vejo tristão

- finalmente percebendo a farsa e -

recebendo isolda

um abraço infinito dentro deste infinito

não existe mais o medo

da queda ou da escuridão

não sou mais um

sou seu eterno amante

- aquele que realiza os seus delírios -

e em volta

pessoas de cores e línguas diferentes formam uma irmandade

aqui

existem círculos cruzes e estrelas cadentes

aqui

não existem heróis

apenas aprendizes - como eu - 

aqui 

somos velas

irradiando luz nos incontáveis braços

deste imenso candelabro

aqui

nossa luz e nosso riso afastam o mal

que procura outro espaço - tempo - para se expandir

aqui

tudo é claro e compreensível

e o cordeiro não precisa sangrar

para o sacrifício do amor


vejo o rio em sua calma

e vislumbro um coral de virgens e prostitutas

que nos canta a canção

de deixarmos portas abertas

percebo que meus sonhos 

eram a minha prisão

hoje 

sou a estrela

o rio

a grama verde

a cruz

o ancião

hoje

estou pleno em ser

.

.

.

.

.

.

.

sou um ancião

que ás vezes gosta

de contar piadas





dedico a todos vocês que estão trilhando os caminhos de luz 

estejam em qual degrau estiverem.


arte : marcus web

      p. aint


©2018 do autor

permitida a reprodução desde que citada a fonte

protegido pela lei 9.610 de19 de fevereiro de 1998



 








22 comentários:

Albir disse...

Então gosto de ser ancião só pra recitar o seu mantra.

Will disse...

Como é bom envelhecer com sapiência... Para Galgar cada degrau com precisão...
Bom dia Meu Amigo ��❤

Anônimo disse...

Essa é demais. Me lembra os anos hippies, psicodélicos. Seu texto é enxuto e preciso.

Wilson tiburço disse...

Simplesmente perfeito meu amigo!! Forte abraço!!

Anônimo disse...

Cada leitura e uma surpresa. Pode ser no mesmo poema ou em vários. A sua variação de estilos é tão grande que só sabemos que é seu por que o seu DNA está presente. Neste, todas as nossas duvidas são jogadas no ar e com suas certezas contrapõe todo o texto.
A piada final foi um deleite para mim, assim como os créditos da arte, coisa que você repete sempre.
Se você não fosse humano diria que tem a forma de poesia.
Alcir

Unknown disse...

Envelhecer... você é um gênio.

Angela Giunta disse...

Inspirador

Vicente Morgado disse...

Lindo caminhos sobre a vida e o envelhecer.

Renato E.S. disse...

Com linguagem sucinta o recado é dado. Fico feliz pelo ancião que discorre, uma síntese da realidade imaginária.

Sandra Modesto disse...

Linda poesia 😍

Carlos Eduardo disse...

Que viagem Mago. Que viagem!

Salete Ortiz disse...

O Cordeiro Filho de Deus. É o Paraíso que você está não é?

Solange Santos disse...

Não importa o degrau... isso mesmo! Tocante!

Zoraya Cesar disse...

Que viagem fantástica, My Lord! Você nos leva degrau por degrau sem que percebamos, por conta das nuances de imagens e sentidos. Quem falou psicodélico, gostei. Uma viagem lisérgica de poesia. Nada mais de imolar o Cordeiro! Sejamos um ao final do Caminho!

Felix Chamorro disse...

Genial. Linda poesia ! Um abraço Branco.

Claudio Mariotto disse...

Desobrigados.... despercebidos... um pouco mais livres das projeções...

Alessandra Calil disse...

Lindo texto, envelhecer é maravilhoso 👏
Parabéns querido amigo

Débora disse...

Desbravando almas, como sempre!!!

Osmar disse...

Muito belo, meu amigo. Meus parabéns.

Anônimo disse...

Ímpar. De uma profundidade poucas vezes atingida.

Marcus Vinicius Marquinho disse...

Uma profusão de imagens e sensações, as áreas de conhecimento sendo revisitadas e aprimoradas. Grande texto, grande autor.

Carla Dias disse...

Uma pincelada e tanto sobre ser humano, né? Todas as camadas, cada beleza e a necessidade de desapegar do tempo. Seu poema me caiu muito bem. Acalmou meu dia, atiçou meus demônios, do jeito que prefiro que seja, de fazer a vida pulsar. Beijos, Branco. Obrigada pela sua poesia.