chegar em casa
tirar os sapatos
empoeirados
apenas mais um dia difícil
tentando me vencer
parado em pé no meio da
sala
olho para a parede
esburacada
onde estão pendurados
meus símbolos de fé
meus amores
e o espelho
que reflete meu olhar
quase apagado
apenas uma faísca do
brilho que existiu um dia
caminho pela sala
penso no tempo
conto os dias
me sento
e olho para a tv desligada
na tela escura imagino cenas
de outros tempos
tento cantarolar uma
canção
que aprendi quando jovem
minha voz áspera e rude
contrasta com a melodia alegre
em uma combinação bizarra
as cinzas do cigarro
se misturam com a poeira no chão
continuo a lembrar
puro sangue
correndo pela vida
tentando mudar o mundo
folhas molhadas pelo orvalho
brilham sob a luz do sol
correr pelo instinto
e dizer que todos estão errados
apenas para satisfazer minha rebeldia
juvenil
e em um lampejo de loucura – aqui
sentado –
grito
tragam-me de volta aquela voz ingênua
tragam-me de volta aquele sentimento de
que é bom estar vivo
tragam-me de volta aquele puro sangue
volto a realidade
e com os olhos esbugalhados
percebo que mais um dia se passou
deitado na cama – esperando o sono
chegar –
as boas lembranças
às vezes
são as mais tristes
finalmente o sono me vence
e sonho
com puros sangues tentando mudar o mundo
correndo por instinto e procurando fazer o
certo
serão felizes sorridentes inquietos
até que chegue o dia
em que dormirão sozinhos
com seus sapatos empoeirados embaixo da
cama
26 comentários:
Muito lindo
Sempre nos surpreendendo. A destino dos derrotados, o pessimismo latente e uma única esperança, continuar tentando pelas gerações afora.
Perfeito!
Amei. Um retrato da vida, dos que ficam solitários no fim. Mostra a importância da família amiga e companheira na hora que maus precisamos dela.
Meu amigo, grande sábio, são as lições dá vida, Deus te abençoe, fique com Deus abraço.
Parabéns!! Bela reflexão!!
Perfeito 👏
Parabéns, como sempre uma linda reflexão.
Perfeito 👏
Parabéns, como sempre uma linda reflexão.
Quem acompanha seus escritos percebe as mudanças. Nos primeiros, o seu eu lirico nos mostrava a esperança e a beleza das coisas simples da vida, através do tempo, as mudanças, o progresso, a perda, o estar deslocado em um mundo que, você não reconhece como seu e finalmente a rendição. O poeta se rende ao que não é poesia e desta não poesia faz lindos poemas. Uma contradição digna do seu talento.Bravo poeta!
Alcir
Maravilha, sempre renovando os pensamentos e ideias! Parabéns.🥰👍🏾🙋🏾♀️
Este fala do caboclo que chega em casa depois do dia de labuta, e se leva a imaginação de como será o hoje ou o amanhã.
Parabens! Longa vida á Casa de Lorde!
Gosto de como expressa sentimentos. As vezes parece que muitas pessoas se sentem assim, inclusive eu. Adorei!
Muito bom! Retrato da realidade de muitos.
Obrigado por compartilhar. Reflexões necessárias nestes dias, meses, ano atípicos
Tantos sonhos e ilusões... Belíssimo como sempre meu amigo!
Essa analogia dos cavalos puro sangue foi, apenas, magistral. Outro poema nada simples, pungente, ensimesmador...
Magnífica reflexão. Parabéns !!
Oi, Branco!
Amei, como sempre! Uma poesia de clareza nostálgica incrível!
Parabéns, excelente reflexão.
O que seria de nós sem a dor do poeta?...
Perfeito, mas triste ao mesmo tempo .
Linda reflexão e a mais pura realidade. Parabéns ao meu amigo Poeta.
Impecável como sempre, ninguém desenha o tempo como você.
Sangue puro!
Parabéns Wilson 👏👏👏
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