segunda-feira, 26 de agosto de 2024

conversa sem pressa (ou preguiça)


 

 

estou sentado no meio-fio de uma rua antiga

com uma casa antiga atrás de mim

a última vez que sentei no meio fio

foi há tanto tempo 

e eu ainda sonhava

— a rua era de terra batida 

mas a casa

bem

morei nela 

— nos tempos que eu ainda sonhava 

bons tempos

tempo

que voa

e em minhas lembranças

voam nascimentos

aniversários

casamentos

mortes

presenças

ausências

alegrias

e decepções

as bolinhas de gude

os pés descalços e sujos

a vida ainda acontecia

 

escuto um olá que me desperta

um velho amigo de passagem

que para e senta-se ao meu lado

dois homens sentados no meio-fio

iniciando conversa

sobre futebol

sobre o clima

sobre as bundas e os peitos

sobre como as coisas mudaram

conversa calma

conversa sem pressa

dois velhos amigos velhos

conversando

morrendo

devagarinho




fotografia: Camilian Branco

©2024 do autor

Ⓡ genoma




29 comentários:

Anônimo disse...

Grande poesia. Um retorno aos primeiros tempos em que visualizamos cada frase. Nós faz refletir sobre a finitude de tudo. Grande poesia de um poeta maior.

Anônimo disse...

Surreal

Anônimo disse...

Lindo relembrar um tempo em que éramos feliz de verdade! Que saudade! Belo texto 🙏🥰🙂

Nadia Coldebella disse...

Que lindo , nostálgico e, ao mesmo tempo, escancara a finitude. Que idade é essa que quando chega a gente para de sonhar? Lindo, lindo, lindo...

Márcia Antunes disse...

Que coisa mais linda, poeta.

Carlos Eduardo disse...

O Mago trabalhando com as palavras e nos conduzindo a lugares que existem mas que preferimos fingir que não vemos. Como sempre um mergulho em nós mesmos.

Carmen Lúcia disse...

Que delícia, lembrei da minha adolescência, saudades desse tempo. Parabéns!

Helena Moura disse...

Muito lindo!!!

Anônimo disse...

Adorei

Anônimo disse...

É como ver um filme em que o destino já está traçado. Grande poeta!

Anônimo disse...

Parabéns meu amigo! Show!👏👏👏

Camilian disse...

Você é um porta incrível pai, te amo!

Anônimo disse...

Alegrias e tristezas. Para apreciar o poeta e refletir o poema

Anônimo disse...

Tristemente lindo. Você sabe como invadir nosso coração.

Anônimo disse...

Como descrever o que sua poesia transmite? Bravo! Bravo! Bravo!

Adriana Guedes disse...

Mágico!

Alcir disse...

Quando penso que você atingiu seu máximo, uma nova surpresa. Um poema para ler devagar, saboreando cada frase e no final sentir o gosto de lagrimas.

Anônimo disse...

Uma bela reflexão.

José Luiz do Valle disse...

Um triste passeio pela vida e a reflexão é uma pergunta: Valeu a pena?

Anônimo disse...

Um texto saudoso e sempre impactante. Mais uma jóia do inesgotável arsenal do amigo Branco. Parabéns e um abraço.

Anônimo disse...

A poesia de branco em seu melhor. A narrativa, madura e profunda, despejada como se em conta gotas, a quebra do padrão e o final como uma represa explodindo os muros de nossa percepção. Brilhante.

Anônimo disse...

"a vida ainda acontecia". Confraria!

branco disse...

exatamente isso. ainda éramos os capitães do barco.

Anônimo disse...

Maravilha...

Anônimo disse...

Sensibilidade, beleza, alegria, tristeza. Uma vida belamente descrita em poucas linhas.

Anônimo disse...

Lindo! Lembranças sempre existirão e que venham com esse ar de poesia!
🌹

Zoraya disse...

Oxalá tenhamos um amigo a sentar conosco no meio-fio quando o momento chegar! E, pela bondade de Deus, talvez um pouco bem antes. E que belezura de tudo!

Walter disse...

Muito bom! Saudades de quando eu apenas sonhava sentado no meio fio. Obrigado irmão. Abração

Anônimo disse...

Tempo que sempre volta em nossas lembranças
Infância
Juventude
Tudo de melhor que guardamos com muito carinho em nosso coração