estou sentado no meio-fio de
uma rua antiga
com uma casa antiga atrás de
mim
a última vez que sentei no
meio fio
foi há tanto tempo
e eu ainda
sonhava
— a rua era de terra batida —
mas a casa
bem
morei nela
— nos tempos que eu ainda sonhava —
bons tempos
tempo
que voa
e em minhas lembranças
voam nascimentos
aniversários
casamentos
mortes
presenças
ausências
alegrias
e decepções
as bolinhas de gude
os pés descalços e sujos
a vida ainda acontecia
escuto um olá que me desperta
um velho amigo de passagem
que para e senta-se ao meu
lado
dois homens sentados no
meio-fio
iniciando conversa
sobre futebol
sobre o clima
sobre as bundas e os peitos
sobre como as coisas mudaram
conversa calma
conversa sem pressa
dois velhos amigos velhos
conversando
morrendo
devagarinho
fotografia: Camilian Branco
©2024 do autor
Ⓡ genoma
29 comentários:
Grande poesia. Um retorno aos primeiros tempos em que visualizamos cada frase. Nós faz refletir sobre a finitude de tudo. Grande poesia de um poeta maior.
Surreal
Lindo relembrar um tempo em que éramos feliz de verdade! Que saudade! Belo texto 🙏🥰🙂
Que lindo , nostálgico e, ao mesmo tempo, escancara a finitude. Que idade é essa que quando chega a gente para de sonhar? Lindo, lindo, lindo...
Que coisa mais linda, poeta.
O Mago trabalhando com as palavras e nos conduzindo a lugares que existem mas que preferimos fingir que não vemos. Como sempre um mergulho em nós mesmos.
Que delícia, lembrei da minha adolescência, saudades desse tempo. Parabéns!
Muito lindo!!!
Adorei
É como ver um filme em que o destino já está traçado. Grande poeta!
Parabéns meu amigo! Show!👏👏👏
Você é um porta incrível pai, te amo!
Alegrias e tristezas. Para apreciar o poeta e refletir o poema
Tristemente lindo. Você sabe como invadir nosso coração.
Como descrever o que sua poesia transmite? Bravo! Bravo! Bravo!
Mágico!
Quando penso que você atingiu seu máximo, uma nova surpresa. Um poema para ler devagar, saboreando cada frase e no final sentir o gosto de lagrimas.
Uma bela reflexão.
Um triste passeio pela vida e a reflexão é uma pergunta: Valeu a pena?
Um texto saudoso e sempre impactante. Mais uma jóia do inesgotável arsenal do amigo Branco. Parabéns e um abraço.
A poesia de branco em seu melhor. A narrativa, madura e profunda, despejada como se em conta gotas, a quebra do padrão e o final como uma represa explodindo os muros de nossa percepção. Brilhante.
"a vida ainda acontecia". Confraria!
exatamente isso. ainda éramos os capitães do barco.
Maravilha...
Sensibilidade, beleza, alegria, tristeza. Uma vida belamente descrita em poucas linhas.
Lindo! Lembranças sempre existirão e que venham com esse ar de poesia!
🌹
Oxalá tenhamos um amigo a sentar conosco no meio-fio quando o momento chegar! E, pela bondade de Deus, talvez um pouco bem antes. E que belezura de tudo!
Muito bom! Saudades de quando eu apenas sonhava sentado no meio fio. Obrigado irmão. Abração
Tempo que sempre volta em nossas lembranças
Infância
Juventude
Tudo de melhor que guardamos com muito carinho em nosso coração
Postar um comentário