ei velho
só você não percebeu
quanto tempo desperdiçou
você ainda era jovem
quando se sentou pela primeira vez
nessa mesma cadeira
colocou sua caneta no papel
que estava sobre a mesa
e começou a viver outras vidas
tomou posse de sentimentos
que não te pertenciam
tornou-se parte de vários alguéns
e nenhum era você
quanta mulheres você amou
sem nunca te-las visto
quantas vezes foi abandonado
quando — em verdade — sempre esteve sozinho
sofreu dores
que não eram suas
derramou lágrimas
que não deveriam estar
em seus olhos
envelhecendo enquanto escrevia
mas
sua vida
papel em BRANCO
ei velho
SÓ você não percebeu
que suas risadas foram ficando
cada dia mais raras
o sorriso — raro sorriso —
não combinava com o sem brilho
do seu mirar
você percorreu estranhos caminhos
com suas tintas e páginas
e ao fim de cada jornada
voltava mais incompleto
a cada ressurreição
deixava um pedaço de si no papel
homem quebrado
quantas vidas você viveu
quantos sonhos você sonhou
você percebe o que fez
você percebe que nada era seu
e agora aí
sentado sozinho — olhando para a varanda —
observando o ninho vazio no alpendre
sem saber qual resposta dará
quando alguém te perguntar
qual é o verdadeiro você
escrito originalmente em novembro, 03 de 2014, para ser incluído no livro, poemas de gaveta, lançado no ano de 2018; no entanto, perdeu-se em uma das gavetas da vida e só fui encontrá-lo em março de 2022.
revisto e alterado. as alterações estão nas 3 últimas linhas.
©2022 do autor
proibida a reprodução total ou parcial.
21 comentários:
Curioso vc ter perdido na gaveta esse poema, depois encontrar e revisar...
As vezes passamos a vida vivendo histórias e sentimentos que não são nossos, para um dia nos darmos conta de uma parte da gente que foi esquecida, ou pior, foi negada e a gente segue sem saber direito quem se é.
Essa é uma coisa que me pega, essa parada do quem sou eu e o que estou fazendo aqui. Mas, talvez se eu encontrear a resposta, acaba a graça da procura. Afinal, o deleite está no processo e não na sua conclusão, não é mesmo?
Que tenhamos mais tempo e menos lamento para descobrir...
Gde abço!
Triste, mas belo poema.
Um grande achado. Gratidão pelo presente, como Magodo Tempo que é ,uma poesia superior.Bravissimo!
Lindo, lindo, lindo.
O eterno colocar-se em outro lugar, em outras pessoas e dimensões, e você faz isso magistralmente. Vou imprimir ecolocar no meu exemplar.
Você alegra minhas segundas, mesmo que me conte uma história triste. Venha mais vezes meu amigo.
Lindo pai! Feliz que reencontrou esse e compartilhou!
Realidade sensível!
Quando estamos em determinadas idades a poesia transborda no coração @
Obrigado amigo….. às vezes escrevemos com a alma, outras vezes com o coração…. Não importa como foi escrito, mas sim o que foi escrito….. obrigado amigo
A perda momentânea desse poema não foi à toa. Nada é. Todas as coisas têm sua hora para brilhar. Parabéns.
Que bom que você o achou... que bom.
Nada é por acaso não mesmo Lord... lindo poema,como sempre arrasando nos sentimentos!
A vida da maioria de nós é assim, as vezes acordamos mas depois dormimos novamente, mas nunca é tarde. Como diIa Dercy Gonçalves " Meu tempo e agora, eu não.morri, tô viva"
Não temos tanta agilidade como antes, mas nossa mente voa como um Jato Supersônico.
Essa é a nossa vida poeta. Os verdadeiros artistas são aqueles que não buscam elogios, não fazem questão de reconhecimento. E o preço é a solidão
Parabéns Wilson
Nosso poeta
Elaine Franco
Excelente reflexão.
Nós mesmos mais experientes, concorda?
Sonhamos juntos e deixamos de viver. Bravo!
Lindíssimo. Sensibilidade a flor da pele.
Grande achado amigo, lindo demais 👏
Um grande texto que quebra a gente em pedaços. Um grande texto escrito por inteiro. Só mesmo vc, My Lord, pra ser tão pungente sem ser piegas, apenas dolorido. Bastante.
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